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Safra de cana pode sofrer com a falta de água

19/08/15 - 00:00
Estiagem pode elevar os gastos de energia das plantas; mais de 40% da produção já foi colhida O deficit hídrico, reflexo da falta de chuvas que atinge todo o Paraná há mais de 20 dias, tem colocado as usinas de cana-de-açúcar em alerta. Em pleno período de colheita da safra, a falta de água pode comprometer a quantidade de açúcar produzida pelas plantas. Até o momento, segundo dados da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), 40% de uma área plantada de 650 mil hectares já foi colhida. Porém, ainda há muitas plantas nas lavouras que estão expostas ao clima árido. Miguel Tranin, presidente da Alcopar, explica que em condições adversas de clima, a planta sente que pode haver uma possível morte, por isso solta flores com o objetivo de perpetuar a espécie. Contudo, nesse processo, a cana gasta muita energia e, com isso, pode haver uma redução no índice de açúcares da planta, já que ela usa o açúcar como fonte de energia. Essa redução de açúcar, observa Tranin, pode afetar diretamente a produção de açúcar e etanol. O dirigente avalia que a safra deste ano deverá ser semelhante à anterior. Neste ciclo, a Alcopar espera processar 43 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Desse total, deverão sair das usinas paranaenses 3 milhões de toneladas de açúcar e 1,6 bilhão de litros de etanol. Tranin lembra que as fortes chuvas que ocorreram em julho trouxeram muita esperança para o setor que apostava em uma boa safra, mas essa confiança não é mais a mesma com a atual estiagem que atinge praticamente todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar. O presidente destaca que a cana que já foi retirada da lavoura apresentou, até o momento, boa qualidade. Nos 50 mil hectares de área com a cultura da Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana (Coopcana), sediada em São Carlos do Ivaí (Noroeste), há pequenos focos de florescimento nas plantas, mas nada que possa comprometer o bom andamento da safra até o momento, segundo avalia Rogério Magno Baggio, diretor-secretário da cooperativa. Baggio afirma que a estiagem tem contribuído para acelerar a colheita da atual temporada, "que está indo muito bem", comemora o representante da Coopcana. Neste ano, a cooperativa estima processar 3,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, ante 3,3 milhões de toneladas processadas em 2014. O aumento da capacidade da cooperativa se deve à elevação de produtividade e ao incremento de 400 mil hectares na área plantada. Mercado Pior que a estiagem, estão os preços dos derivados da cana-de-açúcar. O presidente da Alcopar explica que a elevada oferta de etanol no mercado interno derrubou o preço do biocombustível mesmo em um momento de consumo aquecido. Nas usinas, o valor do litro está sendo cotado a R$ 1,30. "Esse valor só cobre os custos de produção", reclama o dirigente. O açúcar também segue em baixa. Na última sexta-feira, dia 14, o valor do produto chegou a R$ 0,12 por libra/peso. O ideal, avalia Tranin, seria de R$ 0,40 por libra/peso. Vale lembrar que uma libra possui 0,45 quilos. Colheita no Brasil O País deve produzir na atual safra 655,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esse total representa um aumento de 3,2% em relação ao ciclo 2014/15, quando foram recolhidos 634,8 milhões de toneladas. Segundo o órgão, o maior volume de cana colhida vai ser destinado à fabricação de etanol, que representa 55,9% da produção. Ao todo, o Brasil deve produzir 28,52 bilhões de litros do biocombustível, 0,5% menor se comparado ao ciclo 2014/15, quando foram produzidos 28,66 bilhões de litros. Para o açúcar, o Brasil deve produzir 37,28 milhões de toneladas, 1,7 milhão de toneladas a mais no comparativo com o mesmo período do ano passado. Ricardo Maia